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Contos-->As Luzes das Estrelas -- 04/04/2000 - 01:36 (Roberley Antonio) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Dessa vez foi o Antony. Como das outras, não pude fazer nada. Que amizade sincera. O conheci quando ele ainda era um jovem ambicioso e promissor cientista. Agora, quase cinqüenta anos depois, minhas próprias mãos seguraram seu corpo inerte, abatido pelo tempo. Uma salgada gota de lágrima escorre por minha face bronzeada e jovem, como sempre fora.
Antony foi o último amigo que tive. Não mais quero outros. Devo seguir sozinho, até... não quero mais sofrer, sentir isso, ver as pessoas vivendo suas vidas instantâneas sem poder fazer nada.
Amor? Sim, conheci uma vez, há muito tempo. Não sei ao certo quantos anos atrás. Não me interesso por datas. Nem sei em que década estamos.
Foi numa guerra. Eu tinha me alistado como voluntário para lutar no Batalhão de Frente do Exército. Não sei, mas talvez fosse a angustia em meu coração que me obrigou a essa loucura.
No meio dos silvos agudos dos projéteis ricocheteando nas pedras, eu rastejava em direção ao inimigo. No momento de maior desespero, não pela guerra em si, mas pela minha situação ante a vida. Levantei e comecei a corre em direção às luzes piscantes da artilharia adversária. No meio do caminho, avistei um casal de jovens, deitados numa trincheira, semi cobertos por detritos e pela lama que uma insistente chuva criara.
Desci no buraco e fui na direção deles. O jovem pôs-se imediatamente à frente da jovem, que, como soube mais tarde, estava esperando uma nova vida, fruto da união recente dos dois.
Tentei falar com eles, mas não entendiam meu idioma. Usei então a universal linguagem dos sinais. Falei que não queria fazer-lhes mal e que os tiraria dali com segurança. O rapaz, sem outra opção, aceitou minha ajuda e juntos, nós três, saímos se arrastando por mais de três quilômetros, até um rio e, de lá, até a liberdade "aliada".
Cinco anos mais tarde, com o fim da guerra, fui morar numa pequena vila, junto com o casal que salvei e sua pequena filha, Cassandra. Os anos se passaram (para eles, não para mim) e Cassandra se tornara a mais bela, meiga e inteligente mulher do mundo. Foi amor, eu sei que foi. Eu costumava dizer que, antes dela nascer, eu já a amava.
Nosso casamento durou trinta e dois felizes anos, até que ela foi chamada para um plano mais elevado e eu, solitário e jovem, perdia o único e verdadeiro amor de minha vida.
Várias mulheres já cruzaram o meu destino, mas não quero passar por isso novamente. A solidão será minha única companhia.
Dinheiro? Como é fácil ganhar dinheiro, apesar de só ficar realmente rico após uns 250 anos. Minha maior especialidade é sobre antigüidades. Na verdade, sempre gostei de guardar minhas quinquilharias. Hoje, são tão valiosas que posso pedir o valor que quiser por elas. Eu dito seus preços. Lembro que, no último leilão que fiz, vendi um relógio de pulso datado de 1910. Uma relíquia para os apreciadores. Esse relógio, sei bem, ganhei num jogo de cartas com um amigo que veio do Brasil para a Espanha, a fim de assistir à passagem do cometa Halley, um espetáculo sem igual.
Já perdi a conta de quantas vezes dei a volta ao mundo. Não digo que conheci todos os países, mas, com certeza, tenho ótimas histórias para contar. Pretendo conhecer todas as ilhas da Indonésia qualquer ano desses. Visitei uma vez a ilha de Bali, perfeita, sublime, solitária.
Por que? Perguntei a monges, padres, papas, cientistas. Nada. A religião me julgava uma aberração. Um fruto do mal. Quiseram me queimar, como bruxo. Não conseguiriam. Tentei ajudar os outros, mas não pude salvar a todos. Mas tentei. Não sou uma aberração. Não sou demoníaco. Creio que há um ser superior, que criara tudo, inclusive eu. Mas não me calo com o simples "foi Deus quem fez", ou "está escrito, então é assim e pronto". Eu quero saber como foi feito. Quero entender o por que de tudo. Não sou mal.
Alguns cientistas foram amigos, mas muitos queriam me cortar em zilhões de pedaços e distribuir ao mundo científico para analise. Sabe, até que tentaram, mas, não conseguiram. Não sou frágil, infelizmente.
Hoje, só, tenho que achar um lugar para mim. Um lugar que não me machuque sentimentalmente. Não quero gostar. Não quero aprender. Não quero ensinar. Quero cumprir meu destino, seja ele qual for. Oh! Por que tem que ser assim?
Meu coração, num misto de alegria e tristeza, sente que encontrou um lugar em que eu possa esperar "meu tempo passar". Um lugar em que nem a minha imaginação possa me trair. O deserto. Estou andando, andando e andando e não vejo nada vivo. Não vejo o sorriso ou a lágrima de qualquer animal. Procuro um oásis para me eternizar. O calor não me afeta. Eu quero mesmo é estar só...
- Até que enfim lhe encontrei!
Viro a cabeça rapidamente, coordenada pelos instintos ativos. Um homem, envolto numas vestes escuras, que não o protege em nada do calor mortífero do sol. Está à cavalo. Não vejo mantimentos ou água com ele. Nem seu cavalo reclama do calor.
- Quem é você?
"Quem é você?", eu, doutor de várias línguas. Ajudei até a escrever alguns idiomas de várias nações. Que frase mais sem sentindo eu pronunciei. Ah! Se eu pudesse voltar o tempo. A gente sempre pensa em ter uma segunda chance. Mas, não teremos. E é essa a certeza universal mais preciosa que existe.
- Estou lhe procurando à tanto tempo que até essa palavra perde sentido. Estou aqui, nesse deserto. Eu vi a mutação de suas areias tantas vezes que até arriscava um palpite, vez ou outra. Sabia que viria aqui um dia. Parece que foi ontem que nos vimos. Você, um garotinho sapeca, eu, um jovem irresponsável. Senti sua falta. Todos sentem sua falta.
Agora, eu já entendia menos ainda. Meus amigos se foram há muito. Minha infância restaram apenas algumas vagas lembranças de pessoas, de lugares, de sentimentos... não é possível! Essa pessoa, agora perto de mim, olhando-me nos olhos, eu conheço. Meu coração sorri. Os olhos brilham. Eu sei.
- Irmão!
Como é bom um abraço fraternal. Fecho os olhos. Quando abro, a noite já cobrira tudo com seu manto negro.
- Vamos embora. Nossos pais sofrem com sua falta. Se você não tivesse distanciado tanto aquela manhã, nunca teríamos nos separado. Partimos tão de repente, fugindo da ganância do homem, que formos obrigado a deixá-lo só, nesse planeta. Eu chorava todos os dias pensando que você poderia ser humilhado, difamado ou mesmo morto por essas pessoas. Não que eu as ache perversas, mas elas tem que evoluir, e rápido. Eles têm pouco tempo. E o tempo, para seres como os humanos, não para. Desaparece tão rápido quanto a luz de um relâmpago.
Vou embora desse planeta, mas levarei a lembrança do Antony, da Cassandra e de outras pessoas quem sempre estarão em minha mente. Voltarei e continuarei minha vida. Sei agora que há um fim para tudo. Tudo!
Não consigo esquecer a frase de meu irmão "... tão rápido quanto a luz de um relâmpago".

Não importa o quanto tempo se viva. Importa o quanto se viva nesse tempo. Mesmo que essa vida seja tão "rápida" quanto a vida de uma estrela. O que vale é se ela brilhará tão claramente quanto "as luzes das estrelas".

fim
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